MANIFESTO AOS VENDEDORES DE OVOS (Lembrando Hegel)
As coisas estão assim: um post aí embaixo a respeito da história de Marina – uma história que a maioria dos comentaristas não têm a menor ideia do que foi realmente – e muitos se dão ao trabalho de vomitar acusações, sempre à pessoa da Marina, sempre a sua personalidade, ao caráter, a sua conduta. Em lógica, denominamos esta tática como “argumentum ad hominem” – a forma de evitar o debate sobre um conteúdo atacando o autor, o protagonista, para, ao desmoralizá-lo, impugnar suas posições.
Hegel explicava a conduta com a história da vendedora de ovos. No caso, uma moça que havia comprado ovos retornou ao armazém para reclamar que os ovos estavam podres. A vendedora, então, respondeu: “Quem você pensa que é para reclamar comigo? Teu pai é um inútil, tua mãe, uma vadia que fugiu com um francês e tu, ninguém sabe como ganhas o teu sustento”. Bem, independentemente das afirmações feitas pela vendedora, se verdadeiras ou falsas, o fato é que os ovos estavam podres e era precisamente isso que se tratava de não debater.
Os partidos políticos estão cheios de vendedores de ovos. Gente que, ao invés de oferecer respeitosamente argumentos ao debate, como se pressupõe em uma participação séria, se presta a vomitar o fel que portam. Muitas pessoas possuem críticas ou dúvidas a respeito de posições sustentadas por Marina. Nada mais natural. Eu também as tenho. Há temas que tive a chance de discutir com Marina ao longo de muitos anos. Sobre estes, posso dizer que conheço sua posição suficientemente bem. Há outros que não, e sobre os quais ainda quero ter mais clareza. Penso que seja muito importante que as críticas sejam feitas e que as dúvidas sejam expostas, diante de todos os candidatos. Não me refiro, portanto, às pessoas que têm críticas e dúvidas, mas àquelas que não têm qualquer crítica, nem dúvidas. Àquelas que, aliás, nunca tiveram dúvidas. São estas pessoas que agridem e caluniam no mesmo espírito da vendedora de ovos, para não ter que discutir se os ovos estão podres.
Então, quero dizer aos vendedores de ovos que esta página foi construída para a valorização dos direitos humanos, o que significa, em primeiro lugar, respeitar e exigir o respeito às pessoas. Nem Marina, nem Dilma, nem Aécio, nem qualquer outro candidato ou candidata será atacado pessoalmente nesta página, porque este espaço não dará guarida para pessoas que se divertem vomitando na Internet. Serão banidos. Assim, os ajudo para que procurem sua turma. Simples.
Sobre o fato de muitos dos agressores serem militantes do PT e cargos de confiança em governos do partido, tenho a dizer o seguinte: fui filiado ao PT por 25 anos e senti na pele o que é ser atacado de forma desleal por “companheiros”. Durante muito tempo fui chamado de “a direita do PT”, o que sempre me pareceu dizer muito sobre os acusadores e nada a meu respeito. Bastou que o PT chegasse ao governo para que os meus críticos – alinhadíssimos à esquerda no discurso – se colocassem todos à minha direita, de forma alegre e inequívoca. Como que num passe de mágica, a política de alianças foi, primeiro, ampliada e, depois, alargada até não ser mais necessário qualquer política de alianças visto que a “política” passou a ser a de governar com todos os que desejassem integrar o governo, ainda que isso significasse dividir o governo com aliados tipo Sarney, Calheiros, Collor e Maluf, para não falar na bancada evangélica que apoiou em peso o governo Dilma empurrando as decisões do governo por caminhos ainda mais equivocados e à direita como nos sucessivos recuos impostos quanto ao tema da homofobia, na política criminal e na política de drogas.
Por isso, é risível que tantos petistas acusem Marina de “se alinhar à direita”, quando esta foi, exatamente, a conduta do PT nos últimos 12 anos! É risível que tantos petistas acusem Marina de ceder às pressões dos evangélicos quando nunca antes na história desse País um governo cedeu tanto espaço aos evangélicos quanto o governo Dilma – o que, aliás, já estava claro quando do segundo turno das eleições em 2010 quando Dilma e Serra disputaram quem era mais cristão e mais anti-aborto! É risível que tantos petistas acusem Marina de ser “aliada dos banqueiros”, quando são os governos do PT que asseguram aos banqueiros os maiores lucros que já tiveram. Aliás, quem afirmou isso foi o próprio Lula e mais de uma vez. Dados da consultoria Economática, relatados em diferentes matérias jornalísticas, mostram que o lucro líquido dos maiores bancos brasileiros, entre eles o Itaú e o Bradesco, saltaram 420% no período Lula em comparação ao crescimento que haviam tido nos governos de FHC. Em valores corrigidos pelo IPCA, foram 167 bilhões em lucros contra 32 bilhões no governo anterior. Nada mal.
Mas o problema com os bancos, então, é com Marina? E qual seria a evidência deste “problema”? O fato de que uma das apoiadoras de Marina, a cientista social graduada pela USP e doutora em psicologia pela PUC, Maria Alice Setúbal – a Neca Setúbal, conhecida educadora e referência na área de pesquisas em educação e ação comunitária- é uma das herdeiras do Itaú. Não é impressionante? O fato de uma pessoa rica ter dedicado sua vida a projetos de educação popular e de ter se envolvido em um projeto político com Marina, desde antes de 2010, é apresentado como “evidência” de compromisso da candidatura com o capitalismo financeiro. Uma “lógica” que lembra os processos de Moscou.
Aliás, segundo Lula, não foram apenas os banqueiros que foram privilegiados pelos governos do PT. Também os donos dos meios de comunicação nunca faturaram tanto:
“Eu não tenho raiva deles e não guardo mágoas. O que eu guardo é o seguinte: eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida como ganharam no meu governo. Nem as emissoras de televisão, que estavam quase todas quebradas; os jornais, quase todos quebrados quando assumi o governo” (Lula).
Para lembrar: em 22 de junho de 2002, Lula assinou um documento chamado “Carta ao Povo Brasileiro”, cuja intenção básica foi a de confortar os investidores e acalmar o mercado. O texto, que firmava posições conservadoras do ponto de vista da política econômica a ser desenvolvida em seu governo, assinalava o compromisso de:
“(…) preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos.
E sustentava que:
“ A estabilidade, o controle das contas públicas e da inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros”.
Já naquele momento, antes da campanha, Lula afirmava sua intenção de governar para todos os brasileiros e de reunir pessoas das mais diferentes convicções políticas e ideológicas, incluindo o empresariado:
“Lideranças populares, intelectuais, artistas e religiosos dos mais variados matizes ideológicos declaram espontaneamente seu apoio a um projeto de mudança do Brasil. Prefeitos e parlamentares de partidos não coligados com o PT anunciam seu apoio. Parcelas significativas do empresariado vêm somar-se ao nosso projeto. Trata-se de uma vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária, que busca abrir novos horizontes para o país”.
Aí pode falar em unir o Brasil? Aí pode destacar a importância de compromissos suprapartidários? Aí pode disputar o apoio de segmentos do empresariado? A resposta dos petistas é: Lula pode, mas Marina não.
Marcos Rolim///