Pesquisa Ibope, contratada pela RBS, divulgada neste fim de semana, coloca dois ex-jornalistas da empresa, Ana Amélia Lemos (PP) e Lasier Martins (PDT), na liderança das disputas para o Piratini e o Senado, respectivamente: “A campanha eleitoral destes indivíduos, às vezes transita por décadas, contra aqueles que estão nas agruras do dia-a-dia, na ação política, expondo-se na plenitude do debate democrático e arriscando, frequentemente, o seu patrimônio moral e material e, não raro, atacados, com ou sem causa, pela grande mídia”, diz o governador petista, Tarso genro
7 de Abril de 2014 às 06:11
Marco Weissheimer
Sul 21 – “A anti-política, presente nos grandes meios de comunicação dominantes do país, é uma forma refinada de fazer política, que gera graves desigualdades nas disputas eleitorais, no âmbito da democracia, como estamos vendo aqui no Rio Grande do Sul”. A afirmação é do governador Tarso Genro (PT) que, em entrevista ao Sul21, aponta aquelas que considera ser as principais premissas da disputa eleitoral este ano no Estado. O chefe do Executivo não quis comentar diretamente o resultado da pesquisa Ibope, contratada pela RBS, divulgada neste fim de semana e que coloca dois ex-jornalistas da empresa, Ana Amélia Lemos (PP) e Lasier Martins (PDT), na liderança das disputas para o Piratini e o Senado, respectivamente, mas criticou a distorção que essas candidaturas de personalidades midiáticas causam na política.
“A campanha eleitoral destes indivíduos, às vezes transita por décadas, contra aqueles que estão nas agruras do dia-a-dia, na ação política, expondo-se na plenitude do debate democrático e arriscando, frequentemente, o seu patrimônio moral e material e, não raro, atacados, com ou sem causa, pela grande mídia”, diz Tarso Genro.
Qual sua avaliação sobre o resultado a pesquisa Ibope divulgada neste final de semana pela RBS?
Tarso Genro: Não vou comentar a pesquisa sobre a disputa sobre o Governo do Estado porque, neste momento, acho mais importante discutirmos as premissas políticas mais amplas, sobre as quais se realiza esta eleição, do que as preferências eleitorais momentâneas. As eleições deste ano serão atípicas, pois, ao mesmo tempo que sofremos um efeito brutal da crise mundial, que nos atinge todos os dias, a oposição não tem qualquer credibilidade para vencer e governar o país. Nas eleições anteriores, os efeitos da crise do capitalismo ainda atingiam pouco o Brasil, mas agora eles estão cobrando a conta. Precisam extorquir dos Brics – através de um novo surto de elevação dos juros – os avanços que conquistamos no último período, para assim financiar a recuperação das suas economia deterioradas.
E quais seriam essas premissas políticas mais amplas que estariam no centro da disputa eleitoral de 2014?
Tarso Genro: É visível que, tanto aqui no Estado, como nacionalmente, não só os candidatos alinhados com o patrimônio político do PT e de Lula estão sob ataque, desta vez, articulado e muito mais pesado do que em outras oportunidades. Mas é visível, também, que se amplia o processo de desmoralização das instituições políticas de Estado e dos partidos em geral, promovido conscientemente pela grande mídia.
Alimenta-se, nacionalmente, a perspectiva de surto inflacionário (ao mesmo tempo que são secundarizados os casos de corrupção demo-tucanos); a Copa deixa de ser um grande evento mundial de caráter esportivo e torna-se um problema para as finanças públicas; faz-se uma forte tentativa de deterioração do patrimônio público com ataques para destruir a Petrobrás e desvalorizar o BNDES; e, sobretudo, acentua-se a campanha para desvalorizar a política e os políticos, tornando os desvios de conduta e as ilegalidades, um patrimônio negativo de todos os partidos; aí, indistintamente, sejam partidos de oposição, de direita, esquerda ou de ultraesquerda: é a busca do fim da política para colocar, em lugar dela, a técnica, o pragmatismo e a insensibilidade burocrática, que sempre foi uma característica de uma direita específica, aquela alinhada com o neoliberalismo e com a redução das funções públicas do Estado, que não é, aliás, uma característica de toda a direita.
Trata-se de uma tática golpista de novo tipo. À medida que você desvaloriza os ritos democráticos e republicanos, tornando regra o que é, não exceção, mas parte minoritária do jogo político, você cansa as pessoas da democracia e começa ser quebrado o ovo da serpente: o cansaço da democracia leva as pessoas comuns a terem saudades do autoritarismo e do silêncio das ruas. Como hoje não podem contar com as Forças Armadas, que estão profissionalizadas e cumprindo as suas funções constitucionais, o caminho mais adequado é a desmoralização do público, a desmoralização dos partidos e a desmoralização dos políticos em geral. Mas, prestem atenção, à medida que fazem isso fabricam seus próprios políticos, extraídos do seu meio ou não, como fizerem com o desaparecido Demóstenes e tentaram fazer com o atual Presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, que, no particular, não aceitou o papel que tentaram lhe reservar.
Quais setores políticos e sociais, na sua avaliação, estariam abraçando isso que chama de “tática golpista de novo tipo”? O seu diagnóstico aponta também uma articulação desses setores com empresas de comunicação. Como essa aliança estaria se expressando, na prática?
Tarso Genro: Não se trata de uma simples conspiração, na qual as pessoas reúnem-se no escuro e resolvem terminar com o projeto democrático em construção ou em renovação, em muitos países do mundo. Trata-se de uma nova forma, operada através dos grandes grupos de mídia, de partidarização, no âmbito da democracia política moderna, dos meios de comunicação de massa. É um recurso político para sustentar os interesses imediatos das novas elites mundiais, controladoras dos fluxos financeiros e da acumulação especulativa, para que o lucro e os pagamentos da dívidas públicas não sofram qualquer restrição.
Estas elites, é óbvio, juntamente com o Estado – que é refém destas mesmas elites credoras – financiam, não só através da publicidade, os grandes grupos de mídia, que tratam a política, a cultura, a violência, segundo os seus valores e os seus interesses mercantis, não segundo o seu dever constitucional.
Assim como os Estados, hoje, são refém da especulação financeira global em função da dívida pública, os grandes grupos de comunicação – locais e globais – são extensões deste mesmo poder e tornam-se partidarizados; ou seja, tornam-se partes do jogo político, muito menos informando e muito mais orientando o Estado, segundo a sua visão de mundo e as suas necessidades como empresas. Ao mesmo tempo, proclamam o fracasso do Estado e também tentam selecionar os que podem, ou não governar. O sucesso desta investida é sempre relativo, pois, como hoje temos a informação circulando em redes e outros meios alternativos de informação, embora o jogo político torne-se desigual, ainda é um jogo político dentro da democracia, ainda que, neste caso, relativa.
Relativa porque, na disputa política entre partidos no âmbito do Parlamento, por exemplo, você tem ataques e respostas, respostas e ataques, em condições de igualdade. Mas, nos ataques, às vezes manipulados ou nas mentiras deslavadas da mídia partidarizada, as condições de disputa não são democráticas. As respostas que dão os partidos ou os agentes políticos, em geral, são publicadas apenas de forma residual ou manipuladas, em termos editoriais, quando, não raro, os jornais ou TVs não partem para novos ataques, sem publicar qualquer resposta (leia mais).