"Lutamos para que o Brasil vivesse uma democracia"
Reconhecido pela Justiça como torturador, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 81 anos, demonstra convicção ao defender ter cumprido sua missão, evitando, que o comunismo fosse implantado no Brasil; durante os três anos e quatro meses em que comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, 502 pessoas teriam sido torturadas no local e 50, mortas pelo órgão
30 de Março de 2014 às 17:26
Rio Grande do Sul 247 – Um dos mais famosos agentes da ditadura, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como torturador. Nos três anos e quatro meses em que comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, 502 pessoas teriam sido torturadas no local e 50, mortas pelo órgão.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, o gaúcho de Santa Maria radicado em Brasília em negar todas as acusações, apesar dos inúmeros relatos de ex-presos e até de ex-agentes, mas pela primeira vez admite que pode ter havido "excessos".
Confira e entrevista concedida pelo coronel Brilhante Ustra à jornalista Cleidi Pereira.
O senhor responde a processos por tortura, sequestro e ocultação de cadáver, foi o primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador. Nos três anos e quatro meses em que comandou o DOI-Codi em São Paulo, dezenas de pessoas foram mortas pelo órgão. O senhor tem dormido bem à noite?
Sempre dormi. Graças a Deus, tenho dormido muito bem à noite. Nunca tive problema de consciência, porque não fiz nada de errado.
O senhor participou ou tinha conhecimento da realização de sessões de tortura no DOI-Codi?
Não. Eu não participei e não tinha conhecimento de sessões de tortura. Isso não havia. Excessos podem ter havido de ambos os lados. Não vou dizer para você que não houve. Pode ter havido excesso de um lado, o cara perder a paciência… Isso pode ter havido. Mas isso é explorado pela esquerda, que quer nos desmoralizar com esse problema de tortura. Mario Lago (ator, autor e comunista) já dizia isso: "Quando saírem da prisão, vocês sempre digam que foram torturados".
Que excessos podem ter sido cometidos?
Não me lembro. Excessos… Eu não me lembro, assim, de excessos que podem ter cometido.
Excessos durante interrogatórios?
Se cometeu, às vezes, no ato da prisão. Pode ter sido. O cara reagia, brigava, havia luta corporal… Você sabe, terrorista não é brincadeira. Não é fácil, entendeu? Mas todos dizem que foram torturados. Uma das poucas que disse em juízo que não foi torturada foi a Bete Mendes. No depoimento, chorou e disse que não foi torturada. E assinou o documento com dois advogados de defesa presentes. Chorou, disse que estava arrependida.
Por que tantos anos depois, quando vocês se reencontraram no Uruguai (em 1985, Ustra era adido militar e Bete, deputada federal) ela o acusou de tê-la torturado?
Aí, minha filha, eu é que quero saber por que que ela mudou. Quando elas foram presas eram umas crianças. Ela não, era maior (de idade).
Ela não pode ter se sentido coagida, com medo?
Mas coagida na frente do juiz, do júri, com pessoas assistindo, com dois advogados ao lado? Todos os presos chegavam lá e diziam: "Eu fui torturado horrivelmente". E ela se arrependeu, chorou. Ela esteve presa 20 e poucos dias, era a líder do grupo que doutrinava. Eram meninos do secundário, 18, 17 anos. Fui ao general e pedi para entrar em contato com o juizado de menores. Foi lá a dona Zuleika Sucupira, dava assistência e declarou: "Eles, aqui, estão sendo muito mais bem tratados do que nós poderíamos tratá-los". Depois, saíram de lá nenhum disse que foi torturado. Um pai até me escreveu uma carta agradecendo pelo tratamento.
Mas o que justifica a existência de inúmeros relatos de ex-presos e até de ex-agentes do DOI-Codi (como o ex-sargento Marival Chaves e o ex-escrivão Manoel Aurélio Lopes) que indicam que a tortura era uma prática comum no destacamento?
Olha, esse escrivão diz que serviu no DOI de 1972 a 1978, (Ustra pega um jornal e lê) "admitiu que houve torturas sistemáticas de presos políticos". Estou olhando a fotografia dele. Não me lembro de jeito nenhum. Uma coisa tenho certeza: pelo nome, da equipe de interrogatório ele não era. Uma coisa que a gente levava a sério era a compartimentação: quem era do interrogatório, era do interrogatório. Ninguém tinha nada que saber o que um e o que outro fazia. Ele disse que viu por uma porta, com certeza, não teria entrado lá.
Leia aqui a entrevista no site do Zero Hora.