21/02/2014
Churrasco mais longo do mundo corre atrás de carne para chegar ao Guinness
Tem boi sonhando em deixar Nova Bréscia, no Vale do Taquari. A cidade busca um feito que só poderia ser alcançado na terra onde já se nasce churrasqueiro.
A fartura gratuita do provável mais longo churrasco do mundo atraiu cerca de 2 mil pessoas ao dia à praça central do município, e os organizadores recorrem a amigos em busca de mais algumas cabeças de gado que sustentem o prometido.
O assado de uma semana decretou um estado de férias forçado no município de 3,7 mil habitantes. Desde domingo, muita gente não cozinha mais em casa, e a dieta massiva de proteína animal não tem cansado os moradores, que estão passando mais tempo na praça central do que em qualquer outro lugar.
— De manhã tomo uma xicrinha de café e venho para cá — conta Egídio Inácio da Silva, 84 anos.
Foram cinco toneladas de carne nos primeiros quatro dias de festa, doadas pela Brazcarnes e pela Friboi. Era o previsto para todo o período de oito dias ininterruptos que devem garantir um espaço para o feito no Guinness Book. Agora, restou aos organizadores e à prefeitura buscar novos parceiros. A previsão é de um fim de semana com mais de 3 mil pessoas por dia.
O número de dias foi escolhido para tornar a façanha mais difícil de ser batida. Na primeira noite, amigos foram os responsáveis por comer carne durante toda a madrugada. Mas já não precisa mais. Ontem, cerca de 2 mil pessoas passaram pela praça à noite. Há uma certeza no ar enfumaçado de Nova Bréscia: nenhuma outra cidade conseguiria administrar tanta quantidade, por tanto tempo, sem parar.
Equipes se revezam na lida a cada 12 horas
Sete empresários-churrasqueiros tiveram a ideia de organizar a festa e formaram equipes com 15 pessoas, que fazem dois turnos de 12 horas ao longo da semana. O vice-prefeito Paulinho Vian assumiu o outro grupo. São 400 quilos de carvão queimando diariamente, 20 quilos de sal grosso para o tempero, mais centenas de pães – o único acompanhamento distribuído.
O fato de ter dobrado a quantidade de carne para suprir a demanda é visto como a prova de sucesso do 1º Encontro dos Churrasqueiros. A intenção agora é intercalar o evento com o Festival da Mentira, outra festa que levou o nome do município para longe.
— Daqui a dois anos vamos fazer apenas por três ou quatro dias. Acho que esse recorde vai durar uns cem anos — explica Gelson Laste, 55 anos, um dos organizadores.
A elite do assado
Parte do grupo organizador da festa – Foto: Diego Vara
Toda essa movimentação em Nova Bréscia começou após o gradual retorno de ilustres filhos do município que, nos anos 1970, desbravaram o Brasil inteiro servindo churrasco tipicamente gaúcho. A revolução começou com a invenção do espeto corrido, que rapidamente se espalhou pelas rodovias nacionais. O comensal escolhia o tipo de carne, servida nas mesas forradas com papel toalha pérola (semelhante ao papel manteiga, onde as crianças costumavam desenhar com palitos de dente).
A partir do sucesso, irmãos, primos e amigos começaram a deixar a cidade, mas ainda sem sonhar com o império que formariam décadas depois. À época da emancipação, em 1964, o município tinha 12 mil habitantes, quase três vezes mais do que atualmente. Suspeita-se que boa parte desses migrantes tenha investido no ramo alimentício. Nova Bréscia virou sinônimo de qualidade quando se procura por churrasqueiro.
— No início, ninguém queria quebrar o outro, mas ajudar. Para nós, a maior riqueza é a família, e agora esse sossego de viver em Nova Bréscia de novo — afirma Paulo Zambiasi, um dos sete churrasqueiros que organizaram o evento.
Além de Gelson Laste, Paulo Zambiasi e os irmãos João e Gilberto e o primo Leomir, a elite do mais longo churrasco do mundo é formada por João Carlos Biasibetti, Arlindo Dellezari e o vice-prefeito Paulinho Vian. Todos cansaram das grandes metrópoles onde fizeram a vida e agora se reencontraram para o churrasco mais importante de suas vidas.
FONTE: ZERO HORA – NOVA BRÉSCIA