Em entrevista ao 247, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe, afirma que o ex-presidente da República e senador pelo Amapá, José Sarney (PMDB-AP) foi o grande avalista do grupo político preso pela Polícia Federal em 2010, durante a operação Mãos Limpas, realizada pela Polícia Federal no Estado. Capiberibe disse ainda que enfrenta dificuldades na execução de alguns projetos que dependem de Brasília e falou também sobre as eleições de 2014; "Campos se viabilizou, mas a aliança PSB-PT é importante no contexto local", disse ele
9 de Novembro de 2013 às 07:10
Amapá 247 – Em entrevista ao 247 o governador do Amapá, Camilo Capiberibe, afirmou que o ex-presidente da República e senador pelo Amapá, José Sarney (PMDB) foi o grande avalista do grupo político preso pela Polícia Federal em 2010, durante a operação Mãos Limpas, realizada pela Polícia Federal no Estado. Capiberibe disse ainda que enfrenta dificuldades na execução de alguns projetos que dependem de Brasília e falou também sobre as eleições de 2014.
247 – O seu partido (PSB) deixou os cargos que ocupava no governo federal e tem pré-candidato à presidência. Nesse contexto, qual é a relação atual do seu governo com o governo Dilma?
Camilo Capiberibe: A presidenta Dilma tem tido uma postura muito pró-ativa, muito republicana em relação aos Estados, tem oferecido programas que o governo do Estado, com a atual capacidade de gestão, tem conseguido alocar recursos. Apresentamos projetos e conseguimos os recursos. Porém temos algumas questões específicas do Amapá nas quais infelizmente não estamos conseguindo avançar.
247 – O senhor pode citar um exemplo?
Capiberibe – Quero citar a regularização fundiária. Infelizmente não temos agilidade, parece que a burocracia não está conseguindo dar resposta para o nosso Estado e para nosso desenvolvimento. Nós estamos ai com um decreto a ser assinado que precisa de algumas decisões do Governo Federal para criarmos um ambiente mais favorável à transferência das terras, mas infelizmente não acontece. Tem ainda outro exemplo que nos traz muita frustração. O Governo do Estado vem fazendo um investimento de mais de quarenta milhões de reais em uma estrada, uma rodovia urbana que é a Norte e Sul e o governo federal, através das suas instâncias, não tem conseguido dar a resposta que precisamos. Nós já construímos dois terços da rodovia, e não conseguimos ter autorização para construir o terceiro trecho. Sinceramente, não encontro explicação para não haver a cessão dessa área destinada à conclusão da rodovia.
247: O senhor afirma que a presidente é pró-ativa e qual seria a mão invisível gerando essas dificuldades ao Estado?
Capiberibe – Antes tudo que acontecia no Amapá aparentemente era em razão de um membro da bancada, hoje não! Hoje eu sei, a bancada sabe, o povo do Amapá sabe: se estamos conseguindo vencer grandes desafios, como é o caso da federalização da CEA, não é porque uma pessoa veio e salvou o Amapá, mas foi porque o governo do Estado e toda a bancada federal conseguiram construir um ambiente de negociação com o Poder Executivo, com o Ministério de Minas e Energia, com a Eletronorte e com a Eletrobrás. Eu queria fazer esse registro, a bancada federal foi muito importante na questão da federalização da CEA, e a Assembléia Legislativa também, ao autorizar os projetos de lei.
247 – Esse empenho conjunto não ajuda em Brasília?
Capiberibe – A ministra Ideli Salvatti esteve aqui no Amapá há cerca de 20 dias e disse que as obras da BR-156, trecho sul, serão delegadas ao Amapá, e nós estamos aguardando a assinatura porque é uma rodovia importante, uma obra do governo federal importante para o Amapá. A questão é que a ministra disse que a obra será delegada ao Estado para execução, e isso ainda não aconteceu, essa falta de agilidade realmente tem dificultado avanços para o Amapá.
247 – No aspecto geral, onde o senhor vê gargalo nesse momento da sua gestão.
Capiberibe – Nesse momento nosso gargalo é a situação que o país atravessa. Como o Amapá é um Estado dependente de transferências federais, o desaquecimento da economia desde 2012, aliado às isenções – redução do ICMS para eletrodomésticos e carros – fez com que fechássemos 2012 com um déficit de quase R$ 300 milhões no orçamento e esse ano de 2013 a expectativa é a mesma. Isso tem tornado a situação dos Estados, não só a minha, mas também dos demais Estados, muito difícil. Os Estados têm contas a pagar, reajustes salariais para conceder, investimentos a fazer, encargos a recolher, porém com o déficit atual fica muito difícil. Vejo que para todos os governadores o gargalo é justamente o ajuste da economia. Se tivermos uma taxa de crescimento mais favorável em 2014 os resultados serão melhores. No nosso caso compensamos com o crescimento da receita própria.
Brasil 247 – De quanto foi o crescimento?
Capiberibe – O Amapá está entre os Estados que apresentaram melhor crescimento da receita própria. No final da gestão passada, 78% das receitas vinham de transferências federais. No ano passado fechou em 75% e no final de 2013 nossa expectativa é fecharmos com 70%. Estamos diminuindo a dependência e isso tem permitido honrarmos nossos compromissos.
247– Mudando um pouco de assunto, o Estado e a prefeitura de Macapá têm anunciado diversas parcerias. Isso significa também uma aliança política com o PSOL do senador Randolfe Rodrigues em 2014?
Capiberibe – O que existe hoje é a decisão política de manter a aliança com o Partido dos Trabalhadores. O PT é um aliado histórico do nosso partido em tempos anteriores e a aliança foi retomada em 2010. Nós temos o desejo manter nossa aliança com o PT e também com os demais partidos que compõem a base aliada, PCdoB, PSDB e outros partidos. Temos uma aliança administrativa com todos os municípios e com a prefeitura de Macapá também, afinal o município concentra mais de 400 mil habitantes do nosso Estado. A população torce por um entendimento de gestão e administrativo que potencialize as ações do governo do PSB e do PSOL. Essa decisão foi tomada lá atrás, no início da gestão, quando decidimos trabalhar conjuntamente para melhorar a vida das pessoas.
247 – Isso independente dos acordos políticos para o ano que vem?
Capiberibe – Sim, independe dos acordos. Em 2010, com circunstâncias muito específicas daquele ano, conseguimos tirar do poder um grupo que levou o Amapá a um dos piores momentos de gestão e credibilidade, envergonhando o nosso povo. Um modelo político conhecido como "Harmonia" que acabou na cadeia e que tinha como grande avalista o senador José Sarney. Em 2012 esse grupo ainda se mantinha vivo e muito forte. Se não fosse nosso apoio no segundo turno ao atual prefeito Clécio Luis, não venceríamos a eleição e aquele grupo teria se mantido na prefeitura. Portanto, entendo que em 2014 as lições de 2012 devem ser bem entendidas. Uma aliança em favor desse Estado é fundamental para continuarmos produzindo mudanças que melhorem a vida das pessoas.
247 – O PSB tem pré-candidato à Presidência da República, o PT também. Esse cenário pode interferir nas alianças no Amapá?
Capiberibe – A eleição é ano que vem. Tenho dialogado com a direção nacional do partido (PSB) e tenho dialogado com a direção do Partido dos Trabalhadores. Temos aqui duas questões fundamentais. A primeira é o rumo que o país vai tomar a partir de 2015. Isso é fundamental para o meu partido e agora com o reforço da ex-ministra Marina Silva, ele (PSB) passa a figurar como um pólo de debate concreto da sucessão presidencial. Se antes havia alguma dúvida quanto à viabilidade real, agora ficou muito claro. Por outro lado nós temos a realidade do Amapá. Aqui a aliança PSB-PT é importante para a população e para o projeto de disputarmos a eleição ano que vem.
247 – As dificuldades que o senhor citou á pouco na decisão de questões de interesse do Amapá junto ao governo federal podem estar relacionadas com essa situação?
Capiberibe – Como já disse, tudo que é disputado pelos Estados através de projetos e propostas temos conseguido acessar. As dificuldades que enfrentamos hoje são as mesmas que enfrentávamos antes, como, por exemplo, a regularização fundiária, o inexplicável não repasse do terceiro trecho da rodovia Norte e Sul e a demora na delegação da BR-156, trecho Sul. Tirando isso, o resto caminha normalmente. Até o momento não mudou e se piorar representa um retrocesso.
247 – Há possibilidade de o PSOL ter um candidato à presidência aqui do Amapá. De que forma isso influencia nas alianças?
Capiberibe – Essa é uma decisão que cabe ao PSOL tomar. Não sabemos que posição o PSOL vai tomar em 2014, agora ter uma candidatura presidencial daqui sem dúvida nenhuma terá um grande impacto. Sê vai mexer no cenário local teremos que aguardar um pouco mais.