Racha da base aliada no plenário da Câmara terá reflexos em acordos regionais entre PT e PMDB; partidos nunca foram tão antagônicos como na tarde de hoje; chapa governista para a reeleição pode entrar em compasso de espera, com o afastamento entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer; correlação de forças no empresariado muda; até o maior interessado na MP, o empreiteiro Emílio Odebrecht, criticou a sucessão de erros políticos; manutenção de gargalos nos portos dará mais discurso à oposição; administração pagou dobrado por falta de articulação política
14 de Maio de 2013 às 19:06
247 _Pode-se perder uma votação de uma Medida Provisória importante, articulada em cima da hora, apesar do empenho pessoal da presidente da República. Mas não precisa ser de maneira tão vexatória para o governo, a base aliada e os políticos envolvidos como aconteceu nesta terça-feira 14, sangrando ao longo de todo o dia, na Câmara dos Deputados. Ao final das tentativas de se votar a MP dos Portos, em sessões marcadas pela radicalização entre deputados, o resultado foi não menos que horrível para o governo.
A conferir:
– A única saída para salvar a MP dos Portos é reeditá-la; não há mais a menor condição política de a Câmara chegar a uma maioria até a quinta-feira 16;
– A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati, atravessou o dia na condição de acusada, pela oposição, de ter pilotado um trem de emendas parlamentares de R$ 1 bilhão; o assunto ainda vai lhe render muita dor de cabeça;
– Pela oposição, uma aliança entre o DEM de Ronaldo Caiado e o PSDB de Carlos Sampaio ganhou o dia, batendo duro em Ideli, no governo, em Dilma, até em Lula, e no gargalo de infraestrutura do País;
– O líder do PMDB Eduardo Cunha provou ter comando sobre sua bancada, carregando o partido para seguidas derrubadas de sessão, em franco desafio ao PT;
– O deputado Arlindo Chinaglia comprovou que, sozinho, sem eco nos partidos de esquerda, não consegue fazer uma frente de defesa para a atual administração;
– Ao empenhar-se pessoalmente no destino da MP, a presidente Dilma Rousseff sai como líder da derrota, deixando contratadas novas dificuldades com o Congresso caso não mude muita coisa em seu setor de articulação.
Os prejuízos do dia no varejo do Congresso têm reflexos no atacado e que o governo vai bem. A ruidosa derrota consumada pela não votação da MP dos Portos foi a notícia do dia em que, numa área em que a administração pública só tem do que se orgulhar, a presidente Dilma estava preparada para brilhar. Ela participa, agora à noite, de um seminário do PT sobre os 10 anos, até aqui, de prática de política externa pela sua administração. A repercussão de uma eventual comemoração de Dilma pela recente vitória do Brasil na OMC será sem dúvida menor do que a dimensão com que será tratado o grande tropeço político no Congresso.
A maneira como a oposição atacou, ao longo do dia, a ministra Ideli Salvati sugere a tentativa, a partir de agora, da construção de mais um escândalo contra o PT. O alvo está dentro do Palácio do Planalto, que permanecia inexpugável. As críticas a manobras que são negadas por Ideli, que teria prometido a liberação de emendas a parlamentares em troca de apoio à MP, passam a ser feitas no mesmo momento em que o ministro da secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho, é convocado pela Câmara para falar sobre sua eventual proteção a Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. Assim, dois auxiliares diretos de Dilma ganharam a preocupação extra de terem de se defender de uma oposição que cada vez mais eleva o tom das críticas.
A manutenção, com a derrubada da MP, do gargalo nos portos terá reflexos diretos no superutilizado sistema portuário brasileiro. As filas de caminhões mostradas na mídia tendem a continuar, uma vez que o governo apostava na oficialização da MP como forma de atrair investimentos privados para o setor. Além de não ter conseguido o objetivo, o governo foi dormir ao som das críticas duras de um dos maiores empresários do País, Emílio Odebrecht, que, até então, era aliado. Foi como estar perdendo de goleada e ainda sofrer mais um gol na prorrogação do jogo.
O discurso da oposição de que o governo está confuso ganhou mais um argumento. O que se viu no plenário da Câmara, efetivamente, foi um show de desorganização da base aliada. A continuar assim, a distância que vai se alargando entre partidos que, em tese, deveriam conviver bem, como o PMDB e o PT, pode mexer em alianças regionais e até, diretamente, na montagem da chapa governista para disputar a reeleição presidencial. O erro de hoje no varejo já empana o brilho de acertos da administração Dilma no atacado.