Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel divulga mensagem sobre a relação do papa Francisco com a ditadura argentina: "Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas acho que ele não teve coragem de acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis"; papel do novo pontífice na última ditadura argentina é posto em questão desde que ele foi escolhido para comandar a Igreja Católica
14 de Março de 2013 às 20:45
247 – A eleição do papa Francisco para comandar a Igreja Católica chamou atenção quase que automaticamente para seu passado, com destaque para seu papel durante a última ditadura argentina (1976-1983). Nesta quinta-feira, após conceder um entrevista à britânica BBC (reverberada pelo jornal Clarín) dizendo que Jorge Bergoglio não tinha vínculos com a ditadura, o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel divlugou uma nota para deixar seu ponto mais claro.
O ativista argentino diz que não considera que "Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura", mas diz achar "que ele não teve coragem de acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis". Leia a íntegra da mensagem abaixo:
Os desafios do primeiro papa latino-americano
Celebramos a nomeação do primeiro papa latino-americano na história da Igreja Católica e sua escolha do animador nome Francisco para levar adiante seu período papal.
Esperamos que possa trabalhar pela Justiça e pela paz além das pressões e interesses das potências mundiais. Esperamos que possa colocar de lado a desconfiança do Vaticano para a proeminência dos povos na sua libertação. E também incentivar transformações sociais que vêm se processando na América Latina e em outras partes do mundo, com a ajuda de governos populares que tentam superar a noite do neoliberalismo.
Esperamos que você tenha a coragem de defender os direitos do povo contra os poderosos, sem repetir os erros graves, e os pecados que teve a Igreja. Durante a última ditadura na Argentina, os membros da Igreja Católica não eram atitudes homogêneas. É indiscutível que houve cumplicidade de grande parte da hierarquia da Igreja no genocídio perpetrado contra o povo da Argentina, e ainda que muitos tenham se esforçado com "excesso de prudência" para libertar os perseguidos, foram poucos os pastores que com coragem e decisão assumiram nossa luta pelos direitos humanos contra a ditadura militar. Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas acho que ele não teve coragem de acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis.
Estou viajando para a Itália para celebrar mais um aniversário do martírio de Dom Arnulfo Romero, um pastor conservador que diante da repressão em El Salvador fez seu caminho de Damasco para a cidade e deu a vida pela justiça e pela paz. Espero também que a escolha do nome de Francisco, um dos santos mais importantes da Igreja, expresse no depoimento de opção e defesa dos pobres contra os poderosos e na defesa do meio ambiente.
Francisco i não herdou uma cadeira do trono imperial, mas a humildade de um pescador. Por isso, esperamos que não se esqueça das palavras do bispo mártir argentino, Monsenhor Enrique Angelelli, quando disse que "ouvimos no Evangelho e outro na aldeia, para saber o que Deus diz."
Paz e Bem
Adolfo Perez Esquivel
Prêmio Nobel da Paz