Cerca de 700 manifestantes denunciaram violações de direitos humanos e sociais, caracterizadas pelo despejo forçado das 1500 famílias que moram no leito da Avenida Tronco, em Porto Alegre, que está sendo duplicada
11 de Março de 2013 às 16:44
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Débora Fogliatto e Natália Otto, do portal Sul 21
Cerca de 700 mulheres da Via Campesina, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e do Levante Popular da Juventude realizam nesta sexta-feira (8) ações de protesto contra a duplicação da Avenida Tronco, realizada para a Copa do Mundo. As moradoras da região também participaram do ato, que integra a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres do Campo e da Cidade / 8 de março.
As manifestantes denunciam violações de direitos humanos e sociais, caracterizadas pelo despejo forçado das 1500 famílias que moram no leito da Avenida. O ato começou com uma concentração na esquina da Rua Padre Nóbrega com a Avenida Cruzeiro às 9h e terminou por volta do meio-dia, na frente do Departamento Municipal de Habitação (Demhab).
De acordo com Adélia Azeredo Maciel, integrante do Comitê Popular da Copa, o grupo havia planejado entrar no Demhab, onde entregariam um documento para o diretor, Everton Braz. No entanto, ao chegarem no local, encontraram os portões fechados e a Guarda Municipal armada em frente ao prédio. Por se tratar de um protesto pacífico, as mulheres preferiram não insistir. Mas logo o diretor foi ao pátio e conversou com elas. "Ele se comprometeu com a gente. Combinamos de montar uma equipe e ele está a disposição para nos receber e conversar", relatou Adélia.
Nesta manhã, também como parte do Jornada Nacional, um grupo de cerca de 500 mulheres do MST ocuparam a sede do INCRA em Porto Alegre. Elas buscam visibilizar a pauta geral do movimento, reivindicando maior agilidade na aquisição de terras, marcação de lotes e fornecimento de água potável para as famílias assentadas.
Por insuficência do bônus moradia, famílias despejadas precisam se afastar da região
Oito mil famílias de Porto Alegre estão sendo prejudicadas pelas obras da Copa do Mundo. Essas pessoas, em geral, moram em lugares onde obras estão sendo realizadas e precisam ser removidas de suas casas. "Estamos protestando contra essa violência. O bônus moradia e o aluguel social são formas de despejo veladas", denunciou Gabriele Pasqual, do Levante Popular da Juventude.
Adélia afirmou que o processo de despejo das famílias residentes da Avenida Tronco foi feito de forma pacífica e organizada, com aviso prévio. No entanto, a comunidade se sente prejudicada pelo fato de não ter sido oferecida uma alternativa de moradia próxima do local onde eles vivem atualmente.
A construção de um conjunto habitacional para abrigar os moradores foi prometida pela Prefeitura, mas por enquanto ainda não está em andamento. "Se já tivessem construído os apartamentos antes de nos pedirem para sair dali, não teria problema nenhum. O povo quer casas melhores, só que também quer dignidade", explicou ela. A moradora ainda relatou que muitas famílias receberam o bônus fornecido pela Prefeitura e optaram por ir para o interior ou para o litoral. No entanto, a vida dessas pessoas também não tem sido fácil. Durante o verão, morar no litoral parecia a melhor opção. Agora, no entanto, as famílias enfrentam dificuldades para se sustentar.
Segundo Gabriele, o bônus moradia concedido pela prefeitura, no valor de R$ 52 mil reais por família, não cobre o custo de uma casa na região. "Por causa da Copa, os imóveis aumentaram de preço. Não se compra uma casa por menos de R$ 100 mil região", explicou ela.
Não por acaso a ação ocorreu no Dia Internacional da Mulher: de acordo com Gabriele, as mulheres são as principais chefes de família da comunidade. "O despejo é uma violência principalmente contra elas, que já construíram uma vida comunitária na região", explicou. "As famílias estão sendo retiradas de um local onde há escola e posto de saúde e não recebem nenhuma garantia ou segurança de que serão reassentadas próximas ao local", lamentou.
O objetivo do protesto, de acordo com ela, é exigir que a população possa participar das decisões de onde serão construídas as novas residências. O movimento pede também o aumento do bônus moradia. "O governo fala que é uma Copa para todos, mas o que a gente vê é uma Copa excludente", afirmou Gabriele. "Não somos contra a Copa, mas queremos poder assisti-la com segurança, de dentro das nossas próprias casas".