Num Estado rico em tradições, as duas mais conhecidas têm até data comemorativa: 24 de abril é o dia do churrasco e do chimarrão. O último, um dos símbolos da hospitalidade dos gaúchos e também dos demais estados do sul, teve a sua matéria-prima denominada cientificamente em 1822. Foi nesse ano que o francês August de Saint Hillare, em passagem pelos territórios paraguaio e brasileiro, fez a identificação da planta, que passou a ser cientificamente chamada de Ilex paraguariensis A. St. – Hil. Mas desde muito antes disso, a popular erva-mate era conhecida pelos índios que já atribuíam muitas propriedades medicinais a planta. Inclusive, os padres jesuítas, por acreditar em suas propriedades medicinais, a fizeram ser popularmente conhecida como “Árvore dos Santos Milagres”.
“Esse contato diário com a planta criou no uso popular um reconhecimento de suas propriedades terapêuticas benéficas aos sistemas circulatórios, digestivos, nervoso central e de natureza antibiótica”, comenta o engenheiro agrônomo da Emater de Passo Fundo, Ilvandro Barreto de Melo.
Ele lembra que, de acordo com a literatura, o mate é uma bebida estimulante, elimina a fadiga, estimula a atividade física e mental, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos. Segundo o agrônomo, a planta conta com vitaminas do complexo B, vitaminas C e E, sais minerais, além da cafeína. E os benefícios, de acordo com o Eng. Agrônomo, não param por aí: “A erva mate é rica em flavonóides (antioxidantes vegetais) que protegem as células e previnem o envelhecimento precoce”, acrescenta.
Segundo ele, a ação estimulante do mate é mais prolongada que a do café não deixando porém, efeitos colaterais ou residuais como irritabilidade e insônia. “Pesquisas do Instituto Pasteur de Paris atribuem também ao mate um papel importantíssimo no processo de regeneração celular”, completa Melo.
Alimento
Apesar de ser popularmente conhecida como alimento e medicamento, para efeito de utilização legal e de registro a erva mate ainda é um alimento. “Mas felizmente, os movimentos da ciência em direção a produtos naturais, limpos, medicinais e alimentos funcionais, têm buscado demonstrar um outro lado, o medicinal e, recentemente, de beleza”, comenta Melo. Ele explica que uma das razões desse interesse pela planta é a sua facilidade de produção e oferta de matéria-prima, além de ser uma árvore nativa, adaptada, resistente, possível de ser cultivada sem uso de agrotóxicos.
Pesquisas
Os conhecimentos populares já vem sendo comprovados em pesquisas como as da Universidade Federal de Santa Catarina, da Feevale, dentre outras. Nos estudos, comprova-se que a erva mate possui antioxidantes capazes de combater os radicais livres presentes no organismo combatendo o envelhecimento precoce. Auxilia no combate ao colesterol reduzindo a absorção pelo organismo do colesterol ruim e da gordura presente nos alimentos, evitando problemas do coração. Também é capaz de quebrar as moléculas de gordura e agir diretamente na diabete, reduzindo a produção de glicose.
Conforme o estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, o consumo regular e diário de ao menos um litro de bebidas feitas à base de erva-mate pode reduzir os níveis do chamado colesterol ruim (LDL) e de aumentar o colesterol bom (HDL) no sangue.
No caso da Feevale, ratos receberam uma dieta que simulava os alimentos consumidos por alguém que não se alimenta adequadamente e sem exercícios físicos. O resultado foi o aumento dos triglicerídeos e colesterol. Mas durante 15 dias os ratinhos continuaram com a mesma alimentação e passaram a receber também um extrato concentrado de erva-mate. O resultado foi uma baixa significativa nos níveis de triglicerídeos e colesterol.
Um ponto a considerar, quanto aos diabéticos, é o uso de erva mate com a adição de açúcar, encontrada comumente no mercado. Para esse grupo de pessoas, o aconselhável seria o uso de erva mate pura. “A erva mate também é capaz de realizar a queima de gordura, acelerando o metabolismo do organismo, e consequentemente contribuindo para a redução de peso”, considera Melo.
Produtos
A utilização da erva mate já é possível em várias formas, desde a infusão do chimarrão, tererê, chás, sucos, mate solúvel, mate torrado, balas, cosméticos, cerveja, extratos de mate e outros. A produção, pós-colheita, passa no processo industrial pelas fases de sapeco, secagem, cancheamento, socagem e empacotamento. Para fins de química refinada se utiliza o extrato de mate extraído de suas folhas. O benefício de sua utilização está diretamente ligado mais as suas propriedades naturais que na forma de consumo. “Mas o chimarrão, pelo seu simbolismo, pela agregação de pessoas, pela popularidade, pela paz interior ao palmear uma cuia de mate, pelos costumes , pela cultura, história, tradição e quantidade de consumo é a mais significativa, beneficiando corpo, alma e mente”, sugere Melo.