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Marconi manda recado: Lula vai se arrepender

Assessores do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vão para o Twitter "avisar" ex-presidente do risco que corre por colocá-lo no olho do furacão da CPI do Cachoeira. O próprio governador disse: País sofre com "lideranças de quinta categoria"

31 de Maio de 2012 às 07:12

Vassil Oliveira_Goiás 247 – "Lula vai se arrepender amargamente de ter colocado Marconi Perillo no olho do furacão." A frase é um post na página de um assessor do governador Marconi Perillo e foi postada no meio da noite desta quarta-feira, 30, e logo em seguida retirada (mas ‘printado’ pelo 247). Outra mensagem postada e apagada: "Perguntinha- E se pintar pato roco nas conversas de Carlinhos Cachoeira?" A afirmação tem endereço certo: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante o dia, informações de bastidores davam conta de uma informação com origem em fontes ligadas ao governador tucano: o vazamento de informações da Operação Monte Carlo foi programado e entre as "muitas coisas" que ainda não teriam sido divulgadas estaria um protocolo da Polícia Federal sobre conversas de lulistas com Cachoeira.

Assim, sem mais nem menos, a informação circulou de boca em boca até os dois posts, publicados e apagados, que por sua vez sucederam declarações fortes do governador no final da tarde com mais tiros na direção de Lula. "Nós vivemos em um país em que algumas lideranças que se consideram acima do bem e do mal, se consideram verdadeiros deuses, não passam de lideranças de quinta categoria. Basta uma oportunidade para que as pessoas comecem a entender as coisas, a conhecer falsos líderes que se firmam na demagogia barata junto às pessoas menos esclarecidas", disparou Marconi, com endereço certo – Lula – durante discurso no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), onde entregou 52 cartões do programa Bolsa Futuro.

Segundo informação do site A Redação, o governador também afirmou que tem sido perseguido por causa de sua ‘suposta relação’ com o contraventor Carlinhos Cachoeira. "A pior coisa do mundo não é a pobreza financeira. É a pobreza de espírito daqueles que nutrem ódio contra as pessoas. Daqueles que querem se perpetuar no poder a qualquer custo. Aqui em Goiás somos um povo livre", falou, ele que está no terceiro mandato de governador. Lula, vale lembrar, ficou dois mandatos no Poder.

Reação em cadeia, ou melhor, em rede, o secretário de Articulação institucional do Governo do Estado de Goiás, Daniel Goulart, também tratou de mandar recado no tuíter. Ao retuitar informação de um blog sobre um possível racha entre PT e PMDB na CPI, ele tascou: "Estão com medo das verdades de @marconiperillo". Ou seja: se a CPI está perdendo o controle, foi porque Marconi acabou convocado e vai falar "verdades".

 

 

Marconi como vítima de Lula – leia aqui

Governador goiano do PSDB, orientado por advogado e empresa que cuida da imagem de políticos, procura levar a cabo a máxima que ensina que a melhor defesa é o ataque. Assim, age como candidato e bate principalmente em Lula. Mas, para passar credibilidade, terá de fazer mais que isso: pode, por exemplo, autorizar na CPI mista abertura de seus sigilos bancário e fiscal. Espontaneamente. Vai fazer isso?

Vassil Oliveira_Goiás 247 – Em nome do discurso da transparência e da coragem acima de tudo, nos últimos dias o governador Marconi Perillo (PSDB) tem procurado agir por antecipação. O auge: antes que a CPI mista do Cachoeira o chamasse, foi até ela. Em um ato pirotécnico, nesta quarta, 29, chegou de surpresa a uma sessão da comissão e se ofereceu para depor.

Se quisesse mesmo passar credibilidade e verdade nas suas palavras, precisaria fazer mais do que isso: por exemplo abrir espontaneamente seus sigilos fiscal e bancário. Mais: convencer assessores seus, como Lúcio Fiúza, a fazer o mesmo. Seria um começo.

Na prática, o governador goiano, premido a dar respostas sobre suas ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira e as ligações deste com o seu governo, busca fazer o que em jornalismo se chama inverter a pauta. Ele é questionado? Então ele passa a questionar. Ele é cobrado? Então passa a ameaçar.

Assim foi que erguei a bandeira da CPI das Empreiteiras, que promete propor na sua ida à CPI. Assim foi também que fez aprovar na Assembleia Legislativa de Goiás CPI também do Cachoeira mas para pressionar adversários – serão chamados, por exemplo, prefeitos de cidades de adversários políticos dele, mas ele mesmo nem tem sua ida cogitada.

Atacar pra se defender não é uma arma nova na guerra, muito menos na guerra política. No que se refere a Marconi, a novidade é que ele nunca foi tão pressionado e jamais tinha chegado tão perto do fundo do poço, segundo relatos de amigos e auxiliares, que em determinado momento chegaram a temer que ele fosse “entregar os pontos”, como definiram, tal era a angústia que o tomava. Contam que ele chegou a ter problemas de saúde, por não ver saída para seu caso.

A decisão de levantar a cabeça e “voltar a ser o Marconi que sempre foi”, diz boa fonte do Palácio das Esmeraldas, partiu de assessores, e não dele. Partiu principalmente de um, que na campanha cuidou da contratação de empresa nacional para cuidar da comunicação. A mesma empresa foi contatada há pouco mais de um mês e assumiu a administração das ações de redes sociais e de administração da imagem do tucano em nível nacional.

A empresa e o advogado de Marconi, Kakai, é que definiram o modelo de ação que está sendo adotado. Em síntese: Marconi buscar estar sempre um passo à frente. É inevitável que vá à CPI? Então ele se adianta e propõe ir espontaneamente. É questionado sobre a casa? Atira em Lula, dizendo que é alvo do ódio do ex-presidente porque teria sido um dos avalistas da denúncia do mensalão. Vale tudo, e tudo é arma.

No Estado, a reação começou com a aprovação de um adicional ‘de emergência’ de R$ 20,5 milhões para propaganda. Com dinheiro para gastar, os governistas foram aos veículos e ofereceram uma mão e cobraram em troca basicamente duas coisas:

a – espaço para as ações positivas do governo;

b – sumiço do assunto “Cachoeira” do noticiário ou que fosse tratado sempre sob a perspectiva favorável ao governo, o que incluía cobertura farta da CPI da Assembleia, controlada pelos marconistas;

c – limitação de espaço, quando não exclusão total, para os adversários, entre os quais os três potenciais pré-candidatos a governador em 2014: Iris Rezende e Vanderlan Cardoso (PMDB), Júnior Friboi (PSB) e Rubens Otoni (PT).

Alguns pontos do discurso recorrente e batido à exaustão pela equipe de Marconi Perillo na imprensa goiana:

1 – Dilma é parceira, o inimigo “de Goiás” – porque não gosta de Marconi – é Lula;

2 – Lula te ódio de Marconi e tudo que está acontecendo é motivado por isso, tem como objetivo atingi-lo em ato de vingança pelo episódio do mensalão;

3 – PT tem medo de Marconi, porque é o único que pode derrotar Lula em 2014;

4 – não há nada que ligue Marconi a Cachoeira; tudo que foi publicado até agora faz parte de uma conspiração para atingir o tucano;

5 – quem tem a ver com Cachoeira é o PMDB e o PT, porque as prefeituras de Goiânia e de Anápolis, administradas por petistas, e de Catalão, governada por peemedebista, é que teriam assinado contrato com a Delta, e o que o Estado tem foi assinado pelo governo anterior (o fato de o governo atual ter renovado o contrato e aumentado o valor nem é mencionado);

6 – enfim, Marconi é vítima. Ponto final.

Junto com essa ação política o governador intensificou as ações de governo. O jornal Tribuna do Planalto chegou a anotar os muitos programas nos quais o governo tem investido (para ver, clique aqui – ), entre os quais um com o sugestivo nome de PAI, ou Programa de Ação Integrada, “lançado com o objetivo de priorizar certas obras, inspirado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.”

Paralelo a isso, o governador tenta minimizar a fragilidade política dentro de seu próprio governo, que não deixa inclusive que faça as alterações que gostaria na equipe. Vontade, por exemplo, de tirar o presidente da Agência de Comunicacão (Agecom), José Luiz Bittencourt, e o secretario de Infra-estrutura, Alexandres Baldy. O primeiro tem as costas protegidas pelo presidente da Assembleia Legislativa, Jardel Sebba, e pelo líder do governo na Casa, Helder Valin; o segundo, é genro do empresário Marcelo Limírio, ligado a Cachoeira e a Marconi.

O fato é que Marconi Perillo ainda não conseguiu fazer o governo andar, mas está empurrando os aliados que resistem ao seu lado. Boa parte, no entanto, aguarda quieto. Quieto – o que não quer dizer que tem esperança de que o momento ruim passe logo.

O detalhe é relevante porque, em outros tempos, o boca-a-boca sempre funcionou como um veículo de comunicação poderoso – multiplicando com onipresença nos municípios – para o tucano. Agora, é um veículo com ruídos. Tem espalhado dúvidas e medo. E caso a situação do governador se complique, levará desespero em tempos de eleição.

Ou seja: Marconi age como quem está em campanha sabendo que é ganhar ou ganhar. Talvez a maior campanha de sua vida. Está em jogo a sua sobrevivência política. É o que tem. Porque a credibilidade, e o respeito, estes já foram derrotados. Em Goiás e no Brasil.