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Pesquisas eleitorais em Porto Alegre: o esboço de uma nova tendência

Foi divulgada na última quinta-feira (24) mais uma pesquisa de intenção de voto para a prefeitura de Porto Alegre e nela Manuela D´Ávila (PCdoB) aparece na dianteira, superando o empate técnico apontado por pesquisas anteriores e abrindo uma vantagem de 12,6 pontos percentuais sobre José Fortunati (PDT), o atual prefeito da capital. De acordo com esta pesquisa, o pré-candidato Paulo Borges (DEM) detém o terceiro lugar e se mantém à frente de Adão Villaverde (PT), que aparece em quarto lugar. No último bloco, vêm Marchesan Jr. (PSDB) e Roberto Robaina (PSOL), enquanto Érico Corrêa (PHS) e José Francisco Mallmann (PHS) praticamente não pontuam.

Realizada pelo Instituto Methodus, durante o período de 15 a 18 de maio, e admitindo uma margem de erro de 3 pontos percentuais, a pesquisa apresenta dados que indicam um crescimento da preferência do eleitorado por Manuela D´Ávila, comparativamente com os resultados obtidos por pesquisa do mesmo instituto realizada apenas 20 dias antes e publicada pelo Jornal Correio do Povo. Naquela pesquisa, com margem de erro de 4 pontos percentuais, Manuela e Fortunati estavam tecnicamente empatados, ela detendo 31,1% e ele 33,5% das intenções de voto.

Frente aos números colhidos pela pesquisa Methodus anterior, Villaverde e Borges trocaram, agora, de posição. Villaverde descreveu trajetória descendente, caindo dos 10% registrados em abril para apenas 5,7% em maio, enquanto Borges percorreu rota ascendente, subindo de 3,3% para 9,2% em igual período. Os três últimos colocados, Robaina, Corrêa e Mallmann permaneceram nas posições em que estavam anteriormente, embora os dois primeiros tenham perdido cerca da metade das intenções de voto registradas pela primeira pesquisa.

Ainda que não se possam comparar pesquisas diferentes, realizadas com metodologias, planos amostrais e margens de erro diferentes e, ainda, que apresentam nominatas de candidatos diversos, vale a pena confrontar os resultados das três pesquisas realizadas neste ano. Com este objetivo, reproduz-se, abaixo, um quadro elaborado com os dados da Pesquisa Ibope, que realizada entre os dias 29 de abril e 4 de maio e publicada pelo jornal Zero Hora, os dados da pesquisa Vox Populi, realizada entre os dias 4 e 6 de maio e publicada pela revista Voto, e os da pesquisa Methodus, divulgados pela própria empresa.

Pesquisas de intenção de voto realizadas em Porto Alegre e publicadas durante o mês de maio de 2012

  IBOPE 29/04 a 04/05 Vox Populi  04 a 06/05 Methodus 15 a 18/05
Manuela D´Ávila (PCdoB)

36

30

41,3

José Fortunati (PDT)

28

31

28,7

Paulo Borges (DEM)

6

3

9,2

Nelson Marchesan (PSDB)

4

2

3,9

Adão Villaverde (PT)

3

8

5,7

Outros

3

7

1,9

Brancos e Nulos

11

11

6,3

NS/NR

8

8

3,2

Total

100

100

100,2

Nota: A pesquisa Ibope teve amostra de 402 entrevistas e margem de erro de 4%, a Vox Populi teve amostra de 400 entrevistas e margem de erro de 4% e a Methodus de 1200 entrevistas e margem de erro de 3%.

As pesquisas Ibope 29/04 a 04/05 e Methodus 15 a 18/05 apresentam resultados congruentes, apontando uma dianteira de Manuela sobre Fortunati superior ou quase superior às margens de erro admitidas em cada uma das duas pesquisas. Segundo o Ibope, a vantagem de Manuela estaria no limite da margem de erro, enquanto que, segundo a Methodus, a vantagem seria maior do que a margem de erro. Além disto, tanto Ibope quanto Methodus mostram Paulo Borges, Marchezan Jr. e Villaverde embolados, ainda que apontem uma pequena vantagem para o primeiro. Os resultados do Instituto Vox Populi divergem dos captados pelos dois outros institutos. Segundo sua pesquisa, Fortunati e Manuela estão em rigoroso empate técnico e Villaverde apresenta vantagem sobre Paulo Borges e Marchezan Jr., ainda que dentro da margem de erro.
Pesquisas eleitorais são “retratos de momento”, já se tornou corriqueiro afirmar. Elas captam os humores momentâneos dos eleitores, que são passíveis de mudanças radicais, às vezes, dependendo dos fatos políticos e de suas repercussões na mídia. Além disso, o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV é um instrumento de campanha poderoso, com grande capacidade de modificar tendências e de forjar resultados, às vezes sequer sonhados antes de seu início. Não obstante todas estas ressalvas, diante dos dados das pesquisas realizadas durante o corrente ano, há fortes indícios de que Manuela D´Ávila detém hoje a liderança na disputa eleitoral em Porto Alegre, que José Fortunati está na segunda colocação e que Paulo Borges e Adão Villaverde disputam o terceiro lugar.

Talvez uma das explicações para estes fatos seja a preferência do eleitorado jovem pela candidata do PCdoB, revelada tanto pela pesquisa Methodus quanto pela pesquisa Vox Populi, que foram os dois institutos que publicaram dados sobre as intenções de voto segundo a faixa etária dos eleitores. No gráfico abaixo, elaborado com dados da pesquisa Vox Populi, fica fácil perceber que são das faixas etárias menos elevadas que provém a vantagem de Manuela sobre Fortunati. Neste gráfico, pode-se perceber uma inversão das preferências de Manuela e de Fortunati, com as suas curvas de preferência descrevendo um xis. Enquanto a preferência por Manuela tem o seu ponto mais elevado na primeira faixa etária e vai decaindo até a última faixa, a curva de Fortunati começa menos elevada e vai subindo até atingir o seu ápice na faixa etária mais elevada.

(inserir gráfico)

Para se compreender o motivo de candidatos do PCdoB (em aliança com o PSB e outros) e do PDT (em aliança com o PMDB, o PTB e outros) ocuparem as primeiras posições em todas as pesquisas, enquanto o candidato do PT fica em terceiro ou quarto lugar, é preciso considerar a ruptura ocorrida no bloco de partidos de esquerda que governou Porto Alegre durante anos e que compõe a base dos governos estadual e nacional. O afastamento dos partidos de esquerda parece estar fazendo com que os votos de rebeldia e inconformidade, que caracterizam o eleitorado do município, se diluam entre os partidos deste campo, hoje concorrentes.

Porto Alegre tem eleitorado com tendência à esquerda. Durante o período democrático de 1945/1964 ele votou preferencialmente com o PBT varguista e lhe garantiu o governo municipal repetidas vezes. Depois da ditadura de 1964/1985, o PDT brizolista assumiu momentaneamente a liderança no município, fazendo o prefeito da capital. Foi o PT, entretanto, o partido de esquerda que mais tempo e por mais mandatos consecutivos se manteve no governo portoalegrense. Depois de 16 anos e quatro mandatos, os candidatos petistas sofreram duas derrotas seguidas, sendo vencidos por candidatos do PMDB e do PDT. Hoje, a se confirmarem as tendências captadas pelas últimas pesquisas, talvez outra hegemonia política esteja se constituindo em Porto Alegre.

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Benedito Tadeu César é cientista político especializado em análise política, partidos políticos, pesquisas de opinião pública e comportamento eleitoral e é também diretor executivo do Sul21