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Comissão de intervenção do Hospital de Caridade presta novos esclarecimentos

A comissão intervencionista do Hospital de Caridade, que está atuando provisoriamente na gestão da entidade a fim de garantir a realização plena de serviços médico-hospitalares aos usuários, prestou uma série de esclarecimentos e informações em coletiva de imprensa realizada na manhã desta sexta-feira (11), junto ao auditório do hospital, em Três Passos. Diversos veículos de comunicação de Três Passos e da região estiveram presentes.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, há um bom período vinha sendo estudada a intervenção na entidade hospitalar. A comissão instalada definiu, atendendo indicação do corpo funcional do hospital, como administradora nesse processo a funcionária Leila Klein Bender, que já trabalhava no setor financeiro do hospital e possui cerca de 20 anos de serviços prestados à entidade. Rosângela Andréia Pinheiro, também funcionária, está integrada da mesma forma aos trabalhos da comissão.
 
Pressões do ex-presidente eram constantes
De acordo com Leila, no período da gestão comandada por Armindo Leonhardt, diversas vezes sofreu pressão, por estar trabalhando em uma parte sensível para a administração da instituição. As ameaças, segundo ela, partiam diretamente do ex-presidente, que afirmava, inclusive, que ninguém conseguiria provar nada, já que os relatórios e balancetes adulterados não dariam essa possibilidade, tentando intimidar a funcionária e desmobilizá-la em uma possível denúncia. “Há três anos eu procurava ajuda. Mas somente agora conseguimos levantar documentos e provas necessárias para a denúncia ter força”, afirmou.
 
Profissionais eram ludibriados com relatórios maquiados
O médico radiologista Silvio da Silva Netto, que ao lado do médico Lauro Borth, integra a comissão em nome dos profissionais, afirmou que o corpo clínico do hospital recebia relatórios e balancetes maquiados, dificultando a averiguação de irregularidades. Dessa forma, entendiam que a entidade estava equilibrada financeiramente. Apenas agora estão podendo ficar a par de detalhes e constatações diversas, auxiliando também nas investigações. “Tínhamos uma outra visão do quadro. Pensávamos que a secretaria de Saúde do município deveria auxiliar mais o hospital e não apenas ficar cobrando, pois nos passavam que tratava-se de represália a partir de motivações políticas”, declarou Silvio.
 
Dívidas chegam a aproximadamente R$ 15 milhões
De acordo com a comissão, o hospital tem quatro empréstimos realizados em instituições bancárias, totalizando cerca de R$ 2,5 milhões. Parcelas que beiram R$ 58 mil são debitadas mensalmente. De acordo com Leila, as decisões para tomada de empréstimos ficavam centralizadas na mão do ex-presidente e possivelmente eram informadas a outros membros da direção de forma maquiada ou até mediante coação.
Em dívidas com RGE, Corsan e FGTS, os valores atingem R$ 1,3 milhão.
Ainda existem 853 títulos protestados em cartório, onde ainda não se tem o valor total. Estão pendentes também parcelas de recolhimento do INSS, em períodos anterior, chegando a dez anos de pendências. O valor total e atualizado ainda não se conseguiu averiguar de forma precisa. De acordo com a comissão, nos últimos anos os valores referentes à previdência estão sendo recolhidos em dia.
Leila repassou que o déficit mensal do hospital varia entre 80 e 100 mil reais.
 
Valores desviados ainda não podem ser mensurados
O procurador jurídico do município, Edemar Niedermeier, ressaltou que o valor aproximado a R$ 15 milhões refere-se a dívidas do hospital atualmente (fornecimento de água, energia elétrica, empréstimos e dívidas fiscais). Esse valor, grifou Niedermeier, não se refere às irregularidades que causaram as denúncias. De acordo com ele, os desvios financeiros orquestrados pelo ex-presidente e ex-administradores, estão sendo apurado na investigação do Ministério Público e ainda não podem ser mensurados em valores totais.
As ilegalidades com empresas, no fornecimento de materiais e serviços, fazem parte de todo esse levantamento que a Justiça está realizando. Dessa forma, a comissão não pode afirmar quais as empresas que estariam envolvidas. A comissão informou ainda que, de acordo com constatações preliminares do MP, os desvios realizados periodicamente eram feitos utilizando-se vários métodos, como pagamento direto e através de compras superfaturadas de equipamentos e materiais.
 
Gestões anteriores poderão também ser investigadas
Perguntado pelo Jornal Observador se existe a possibilidade da investigação ser ampliada para gestões anteriores à de Armindo Leonhardt, Niedermeier falou que neste primeiro momento o MP ainda não solicitou informações anteriores a essa gestão que vinha comandando o hospital. Mas havendo essa determinação por parte da Justiça Pública, a comissão estará fornecendo todos os dados possíveis e informações necessárias.
 
Comissão trabalha para garantir pleno funcionamento ao hospital
O secretário de Saúde de Três Passos, José Carlos Amaral, destacou que o município está mantendo constantes contatos com o Estado e a União visando garantir os recursos e serviços necessários à continuidade do trabalho desempenhado pela casa hospitalar. A comissão, segundo ele, está tratando de levantar todos os dados possíveis da situação financeira e administrativa, além de conduzir um corte drástico de despesas e revisar contratos em andamento.
Segundo Amaral, desde que a atual administração municipal começou a cobrar a devida prestação de contas mensal detalhada do hospital, começaram a ocorrer dificuldades de convivência com o presidente e o administrador, que tentavam criar um desgaste nessa relação, livrando-se de possíveis responsabilidades.
 
Demora buscou resguardar funcionários
Indagado quanto à demora de cerca de seis anos para que as denúncias fossem efetivamente apuradas com o rigor necessário, o advogado Edemar Niedermeier afirmou que o cuidado que se teve primeiramente foi o de se obter provas contundentes para então realizar a denúncia formal ao Ministério Público, resguardando os funcionários e evitando dificultar a obtenção desses embasamentos.
Niedermeir disse que o Ministério Público, a partir da apuração de todas as fraudes e irregularidades apontadas, deverá mover uma Ação Civil Pública. E através de uma auditoria interna do hospital, revendo contratações mal intencionadas, a entidade também poderá acionar judicialmente e buscar reaver aportes financeiros.
Questionada sobre se buscaria alguma medida protetiva, Leila disse que mantém-se tranquila, pois após a deflagração das denúncias na semana passada, não recebeu nenhum tipo de ameaça. Caso seja necessário, ela está devidamente instruída de como proceder, garantindo sua integridade.
 
Não há previsão de novas demissões nesse momento
O Hospital de Caridade possui 202 funcionários. Nesse primeiro momento, a comissão está realizando um ajuste no quadro funcional. Seis pessoas foram demitidas, entre elas o ex-administrador, Jeferson Oliveira, um dos principais investigados.
As demais cinco pessoas demitidas, ligadas à parte administrativa do hospital, não tem qualquer ligação com as irregularidades ou com as investigações. Essa medida foi tomada buscando diminuir a folha de pagamento e o número de funcionários que nesse momento, de certa forma, não são tão necessários. Ao mesmo tempo, a comissão afirmou que os serviços prestados não serão prejudicados, pois o quadro técnico e profissional continua o mesmo. “A forma de corte dos funcionários foi bastante estudada e, por isso, foram realizados cortes possíveis e pontuais, buscando sempre não comprometer os serviços”, disse Leila. Segundo ela, nesse momento não há mais nenhum afastamento ou demissão previstos.
 
Comissão trabalha incansavelmente
Finalizando a entrevista coletiva, o secretário José Carlos Amaral afirmou que a intervenção, se for possível, poderá cessar antes do prazo máximo de 180 dias previsto. Também deixou claro que todos os membros da comissão provisória de intervenção não estão recebendo nenhum tipo de remuneração extra para trabalhar nesse levantamento. “Esse trabalho é de união. E estamos todos trabalhando incansavelmente para apurar as irregularidades realizar esse profundo diagnóstico, com a maior transparência possível para a sociedade”, disse ele.
 
*Reportagem e foto: Vinicius Bindé Arbo de Araujo – Especial Jornal Observador/Rádio Tertúlia WEB
 

**Que a autoria da matéria acima seja citada se o texto, por algum motivo, for veiculado por meio de comunicação diverso.

Mais imagens da coletiva de imprensa podem ser acessadas na Galeria de Fotos deste site.