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Fórum da Igualdade propõe discussão estrutural para combater desigualdades

Vivian Virissimo

Em sua segunda edição, o Fórum da Igualdade volta a Porto Alegre para propor um discurso dissonante aos temas abordados no Fórum da Liberdade que já está em sua 25ª edição e ocorre anualmente na PUC/RS. Promovido pela Central Única dos Trabalhadores, Via Campesina e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), o fórum abriu espaço na manhã desta terça-feira (17) para o embaixador Samuel Guimarães Neto, o economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior e para o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. Os três falaram sobre o papel do Estado e crise capitalista.

Sobre a crise capitalista, o primeiro painelista, o embaixador Samuel Guimarães, defendeu que a crise é localizada e não pode ser classificada como global. “A China se encontra em plena expansão há trinta anos com lucros extraordinários. A crise ocorre em alguns estados na Europa, não se pode dizer que é uma crise global. Esta é uma crise do pequeno capitalismo, das pequenas e médias empresas que sofrem com a concorrência chinesa. As mega empresas multinacionais possivelmente nunca tiveram lucros tão elevados”, sustentou.

Ele comentou que a situação social é de extrema dificuldade, pois há uma forte pressão por parte das grandes empresas para reformular a legislação do trabalho para garantir uma suposta maior competitividade. “Hoje há uma luta contra os direitos sociais, contra o direito dos trabalhadores, e isso significa retirar todos os benefícios que foram concedidos durante séculos, pelo menos desde que se inicia a revolução industrial. É a chamada flexibilização do mercado de trabalho”, acrescentou.

Guimarães Neto afirmou que a crise do capitalismo está sendo utilizada contra o movimento dos trabalhadores. “Essa crise está sendo utilizada contra os programas sociais dos Estados. Quando se fala em austeridade na Europa está se falando em redução dos programas sociais, modificação da legislação de trabalho. São reduções em favor da empresas e transferências para apoiar o sistema financeiro que, muitas vezes, nem são dos países, também são internacionais. O Estado mínimo só para certos temas, não para todos”, disse.

Daiani Cerezer

"“Hoje há uma luta contra os direitos sociais, contra o direito dos trabalhadores, e isso significa retirar todos os benefícios que foram concedidos durante séculos" | Foto: Daiani Cerezer

“Crescimento econômico não enfrenta problemas na raiz”

O economista Plínio de Arruda Sampaio Jr. iniciou sua fala criticando os ideais defendidos no Fórum da Liberdade. “Liberdade só se for de explorar o trabalhador brasileiro, depredar o meio ambiente. Aquele é o fórum da desigualdade”, disse. “Temos que falar em igualdade substantiva, uma igualdade que luta para resolver os problemas históricos do povo brasileiro contra a desigualdade gritante que marca a segregação social e o passado escravista que ainda não foi resolvido e fica engasgado na garanta do povo brasileiro”, disse.

Sampaio Jr. acrescentou que o capitalismo brasileiro não deve ser discutido em termos de governo seja de Lula, Dilma ou Fernando Henrique Cardoso. Para ele a discussão deve ser estrutural e de longo prazo, para não empobrecer a discussão que está por trás. “Este é um momento difícil em que a burguesia naturalizou a desigualdade. Além disso, a expansão da economia brasileira reacende o mito que os problemas do país serão resolvidos com o crescimento econômico. O crescimento permite apenas acomodar os problemas, mas não enfrenta os problemas na raiz, as estruturas que moldam e sustentam o capitalismo brasileiro”.

Sobre a crise financeira internacional, Plínio opinou que o capitalismo vive uma crise profunda e geral. “O capitalismo em tempos de crise é muito mais bruto. Aprofunda e acelera o processo neocolonial no Brasil. Além disso, o crescimento especulativo que pode a qualquer momento parar. Isso nos faz mal, porque não ajuda o Brasil a enfrentar os problemas do Brasil”, destacou.

Daiani Cerezer

Olívio Dutra: "a direita não raro confunde radicalismo com sectarismo. Não podemos cair nessa arapuca. Temos que desafiar as leis do mercado” | Foto: Daiani Cerezer

“O estado brasileiro tem funcionado para muito poucos”

O ex-governador Olívio Dutra contou que participou de edições do Fórum da Liberdade enquanto esteve no Piratini. “Eles me convidaram a contragosto e eu também ia a contragosto. Chegava na PUC e já era vaiado”, contou Olívio. Em sua fala, Olívio afirmou que as transformações sociais não ocorrem automaticamente após assumir cargos institucionais. “Precisamos de mudanças radicais, não podemos ter medo dessa palavra. A direita não raro confunde radicalismo com sectarismo. Não podemos cair nessa arapuca. Ser radical é ir nas raízes dos problemas. Temos que desafiar as leis do mercado”, lembrou Olívio.

Olívio insistiu que a democracia ainda precisa de muitos aprimoramentos. “O estado brasileiro tem funcionado muito bem, mas para muito poucos. Desse jeito o Estado funciona mal e às vezes nem funciona para a maioria da população. Precisamos transformar esse modelo e submetê-lo a um controle diferente, o controle da sociedade”.

O ex-governador voltou a defender três reformas básicas: reforma agrária e urbana, política e tributária, mas reconheceu as dificuldades de colocar em prática grandes mudanças. “Estamos no terceiro mandato de um projeto, mas as estruturas injustas do Estado brasileiro, concentradores de poder para poucos, ainda estão intactas. Não vão adiante, mesmo com a maioria no Congresso. Portanto, não é uma questao de compor maioria. Não podemos nos iludir que a coisa está resolvida, nós estamos vendo que não é bem assim”, conclui Olívio.

Fórum encerra-se nesta terça-feira

O Fórum da Igualdade teve início na segunda-feira (16), com um painel envolvendo Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e candidato do PT à prefeitura de Campinas (SP), e Rudá Ricci, blogueiro e membro do Observatório Internacional da Democracia Participativa). O evento teve como debatedores Celso Ludwig (da FETRAF SUL) e a socióloga Helena Bonumá, com a coordenação de Rafael Cunha.

O evento encerra-se na noite de terça-feira (17) com o painel “Paradigma do consumo e crise ambiental”, que contará com as presenças de Marisa Formolo (deputada estadual pelo PT-RS e presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia gaúcha), Jussara Cony (ex-secretária de Meio Ambiente do governo de Tarso Genro), Nancy Cardoso Pereira (CEBI NAC) e Mauri Cruz (IDHES), sob coordenação de Waldir Bonh Gass. Ao fim do debate, haverá um show com a cantora Raquel Leão.