18/01/11
A nova forma de comunicação, como comentou o produtor de “A rede social”, com o troféu nas mãos, ganhou o principal Globo de Ouro, de melhor drama — além dos de direção, roteiro e trilha original. Mas se o filme, o Facebook e a internet são um sucesso, o mesmo não se pode dizer da televisão: após tantas décadas de bons serviços prestados, ainda se consegue fazer nela uma péssima transmissão ao vivo de um evento internacional — e olha que a premiação está em sua 68ª edição! O pessoal já devia ter aprendido…
A TNT, este ano, conseguiu fazer funcionar a tecla SAP, evitando a sensação de estar na Torre de Babel para quem entende inglês. E, como mera repetidora do sinal recebido dos EUA, não tem culpa da correria que foi se instalando do meio para o fim da festa ou dos intermináveis intervalos comerciais. Estes foram ficando mais e mais frequentes e provocaram falhas horrorosas, como pegar o convalescente Michael Douglas — apresentador justamente do último e mais importante prêmio — já no palco e falando e, depois, cortar a despedida do host Rick Gervais.
Embora tenha sido menos ferino que o habitual, o comediante britânico abriu a festa fazendo piada com os comentários de que a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês) só indicou “O turista” para que Johnny Depp e Angelina Jolie comparecessem à cerimônia no Beverly Hilton Hotel. Pouco depois, fez graça (mais deselegante) com outra reclamação que tem sido feita por lá: a idade avançada do presidente da HFPA — Philip Berk não gostou muito, mas não perdeu a pose: devolveu a brincadeira, fez seu rápido discurso e saiu.
Ainda uma prévia do Oscar
Há algum tempo, nos EUA, a HFPA vem sendo alvo de críticas — além das citadas acima, a de que é uma entidade que não se renova e cujos membros estão velhos e ultrapassados. Ainda assim, os Globos de Ouro mantêm a fama de ser uma prévia do Oscar e a festa da premiação encanta seus participantes por misturar cinema e TV e ser realizada não num teatro, mas num grande salão, com comida e bebida à mesa.
Scarlett Johansson, linda, foi a primeira apresentadora da noite — e se Christian Bale (melhor coadjuvante por “O vencedor”) não empolgou muito com sua barba e o cabelão, foi emocionante ver a veterana Katey Sagal — que completa 57 anos quarta-feira — receber o prêmio de melhor atriz dramática de televisão por “Sons of Anarchy”, do FX. Na plateia, um dos mais entusiasmados com a conquista da colega era Ed O’Neill, que durante dez anos foi seu marido na série “Um amor de família” — quem não se lembra dos Bundy?
Idade foi novamente tema de piada quando Gervais convidou Bruce Willis ao palco para apresentar cenas de “Red — aposentados e perigosos”, chamando-o de “pai de Ashton Kutcher”. O filme concorreu na categoria comédia ou musical, em que o troféu foi mesmo para o favorito “Minhas mães e meu pai” — que também deu a Annette Bening o prêmio de melhor atriz. Na mesma categoria, em TV, o grande vencedor foi “Glee”, com os Globos de Ouro de melhor série e ator e atriz coadjuvantes: Chris Colfer (o Kurt) e Jane Lynch (a temível Sue Sylvester). Os dois foram responsáveis por alguns dos momentos mais empolgantes da festa — ele começando em estado de choque e terminando com mensagem aos “bullies”, ela, divertida, agradecendo, em especial, ao responsável pelos horrores ditos por sua personagem em cena.
Dobradinha repetida
Colfer desbancou, entre outros, David Strathairn, de “Temple Grandin”, da HBO. Como sempre, porém, o canal saiu da festa com vários prêmios e repetiu a dobradinha de protagonistas dos Emmy Awards, ambos vivendo personagens reais: Claire Danes — com a autista Temple Grandin novamente na plateia, aplaudindo sua intérprete — e Al Pacino — uma barbada no papel do Dr. Kevorkian, em “You don’t know Jack”. Os dois filmes já foram exibidos na televisão brasileira, assim como “Boardwalk empire” — melhor série dramática, estrelada pelo também premiado Steve Buscemi. Já a mini-série vencedora, “Carlos”, produção franco-germânica sobre um revolucionário venezuelano, ainda é inédita por aqui.
Bonitinhos, mas pouco à vontade, Justin Bieber — quase 17 anos, mas com cara de 12 — e Hailee Steinfeld — a menina de “Bravura Indômita”, 14 anos recém-completados — apresentaram o prêmio de melhor animação, “Toy story 3”. Não à toa seu produtor perguntou se eles já tinham nascido quando o primeiro desenho da série foi lançado (em 1995).
Contrariando as expectativas, que apontavam o mexicano “Biutiful”, com Javier Bardem, como filme estrangeiro favorito, a HFPA premiou o drama dinamarquês “Em um mundo melhor”. Laura Linney — de “The big C”, nova série que faz graça com desgraça — não apareceu para pegar seu Globo de Ouro de melhor atriz cômica de TV. Jane Fonda, apresentadora das cenas de “Burlesque”, foi aplaudida de pé e Kaley Cuoco não se conteve ao anunciar o melhor ator de série/comédia: Jim Parsons, com quem contracena em “The big bang theory”.
Correria e intervalos demais
Sentiu que o ritmo do texto acelerou? Pois o da festa, também. Parsons comprovou sua capacidade de decorar textos imensos e soltá-los como uma rajada de metralhadora — e com graça. Elétrica, Melissa Leo, melhor atriz coadjuvante por “O vencedor”, também conseguiu extravasar rapidamente sua emoção — pelo Globo de Ouro e pelo beijo do apresentador Jeremy Irons.
A correria teve breve pausa quando Robert De Niro foi chamado por Matt Damon para receber o prêmio especial Cecil B. De Mille pelo conjunto da obra e fez seu simpático discurso. Idem para a emoção da discreta e linda Natalie Portman, melhor atriz dramática por “Cisne negro” — provavelmente em respeito por sua gravidez.
Para países, como o nosso, em que a festa vara a madrugada, a pressa indisfarçável e o excesso de intervalos comerciais — que passam a entrar após cada prêmio — é um convite a Morfeu. Paul Giamatti — melhor ator cômico por “Minha versão para o amor” — e Colin Firth — melhor ator dramático por “O discurso do rei” — conseguiram manter a calma para agradecer por seus Globos de Ouro. Tudo mais foi na base do vapt-vupt e um tanto angustiante. Só faltou botarem um cronômetro no cenário, para aumentar a ansiedade geral.