Felipe Prestes/SUL21
Um grupo de prefeitos das cidades atingidas pela estiagem foi recebido hoje (7) no Galpão Crioulo do Palácio Piratini. Na reunião, o governo anunciou medidas aos prefeitos, ouviu o diagnóstico sobre a situação em cada cidade e também acertou com os mandatários municipais que eles escrevam relatos detalhados, para que o vice-governador Beto Grill busque recursos em Brasília. “Cada município ficou encarregado de elaborar um diagnóstico da situação no seu município e medidas que precisam ser tomadas, para que o vice-governador busque os recursos, principalmente no Ministério da Integração Nacional”, revela o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador.
A reunião contou também com os prefeitos de Aceguá, Arroio Grande, Bagé, Cerrito, Dom Pedrito, Herval, Hulha Negra, Lavras, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado e Piratini. Do governo, além de Grill, estiveram presentes o secretário-geral, Estilac Xavier, os secretários de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan; da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi; de Obras e Irrigação, Luis Carlos Busato; e do Gabinete dos Prefeitos, Afonso Motta. O governador Tarso Genro apareceu na reunião para manifestar solidariedade aos municípios e destacar a importância do Gabinete dos Prefeitos para a interlocução com os municípios.
Investimento em barragens
Entre os projetos que o governo do estado buscará viabilizar com recursos federais estão a conclusão das barragens de Tacuarembó e Jaguari, ambas na Metade Sul. O secretário de Obras e Irrigação, Luis Carlos Busato, conta que estas duas obras fazem parte do projeto de longo prazo do governo. As obras foram iniciadas pelo governo anterior, mas faltam recursos para a conclusão.
Para a de Tacuarembó, são necessários cerca de R$ 80 milhões, e a barragem pode ficar pronta no próximo verão. Já a de Jaguari, precisa de cerca de R$ 50 milhões e ficaria pronta apenas no verão de 2013. Além disso, segundo o secretário, existem outras quatro barragens que estão previstas pelo PAC no estado. Busato pretende ir a Brasília na semana que vem para viabilizar estas obras. “Minha intenção é ir semana que vem a Brasília. Já convidei os secretários Ivar Pavan e Luiz Fernando Mainardi para irem junto”, disse.
Busato também quer viabilizar a construção de 22 mil açudes, para os quais o estado já tem licença da Fepam. Para isso, precisaria de R$ 240 milhões. “A construção destes açudes e das seis barragens daria cerca de R$ 1,5 bilhão. Com 10% do que está sendo gasto na transposição do Rio São Francisco resolveríamos o problema do RS”, diz.
Ações de curto e médio prazo
No curto prazo, segundo o secretário, a ação deve ser de levar água às famílias e aos animais. “A primeira solicitação é imediata, água potável para as pessoas e para os animais. Isto é uma ação da Defesa Civil que já está sendo feita. Está levando água em caminhão-pipa, está mandando caixas d’água para quem não tem local para armazenar”, explica Busato. Já a Secretaria de Obras está cavando bebedouros para os animais.
Busato conta que a Secretaria já tem 159 açudes licitados. “Vou passar isto para o governador na segunda-feira (10). Ele vai analisar e verificar se dá ordem de serviço. Está tudo pronto. Só vou entregar ao governador para ele decidir”. Busato ressalva, porém, que o açude nem sempre ajuda quando já está ocorrendo a estiagem. “Para encher o microaçude tem que chover. Nós vamos fazer as obras. Se chover já acumula alguma coisa de água. Se chover, o açude ajuda. Se não chover, não ajuda”.
A Secretaria tem também contratos com empresas para fazer poços artesianos “Vou verificar quais os locais de maior emergência e vou mandar executar alguns deles”, diz Busato. Em alguns locais das cidades mais atingidas pela seca já há poços artesianos, mas sem a canalização necessária para seu funcionamento. “Cerca de 32 poços artesianos estão perfurados na região, mas sem abastecimento. No nosso município tem três poços nesta situação”, conta o prefeito de Candiota.
Prejuízos
Luiz Carlos Folador considerou “positiva” a reunião e comemorou o anúncio do projeto de anistia aos pequenos produtores, que será votado na convocação extraordinária da Assembleia, na semana que vem. Ele também comemora os anúncios de cedência de caminhões-pipa, da construção de poços artesianos e de caixas d’água para as famílias atingidas pela seca.
Folador diz que Candiota foi o município mais atingido até aqui. “Seiscentas famílias estão sem acesso à água, já há mais de 30 animais mortos”. O prefeito estima que o prejuízo de sua cidade será de, no mínimo, R$ 7 milhões com a estiagem. Candiota é um dos três municípios em estado de emergência. Os outros dois são Pedras Altas e Herval. Segundo o governo do estado, outros três municípios devem decretar situação de emergência nos próximos dias: Pinheiro Machado, Piratini e Dom Pedrito.
O prefeito de Pinheiro Machado, Luiz Fernando de Ávila Leivas, confirma a informação e relata os prejuízos causados pela estiagem na sua cidade. “Já houve prejuízos de 50% na bacia leiteira. Os produtores de milho plantaram apenas 26% do produto. Assim, não tiveram prejuízos, mas o milho fará falta para o gado, nos dando prejuízo ainda durante todo o ano. O nosso rebanho bovino emagreceu entre 30% e 40%”.
O prefeito considerou que a reunião apontou caminhos para a solução do problema que se repete há anos. “A reunião de hoje aponta caminhos. O governo do estado parece bastante comprometido. Me senti bastante contemplado como prefeito”.
Problemas nos assentamentos
Conforme o secretário Luis Carlos Busato, grande parte dos atingidos pela seca está em assentamentos. Por isso, ele conta, estiveram presentes na reunião integrantes do MST. “O problema mais grave ocorre nos assentamentos, porque eles não têm canalização de água. O secretário Ivar Pavan, que tem maior afinidade com estes movimentos, já está dando uma atenção especial. O Pavan conversa com os pequenos agricultores, o Mainardi com os demais agricultores, e eu disponibilizo o maquinário que for necessário”.
O prefeito de Pinheiro Machado diz que no seu município os assentamentos também têm sofrido. Luiz Fernando de Ávila Leivas explica que os assentamentos se estabelecem muitas vezes nas áreas de difícil acesso e distantes dos recursos hídricos. “O normal é o produtor se estabelecer perto de onde há água, mas as fazendas se estabeleceram bem antes que os assentamentos”. Leivas conta que há outras dificuldades para os produtores de assentamentos em seu município. “Os assentamentos ficam a cerca de 30, 40 quilômetros da nossa cidade, não há estrada de qualidade ligando-os à cidade. Muitas vezes é mais barato trazer alimento de Porto Alegre que comprar destes pequenos produtores”.