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Dilma suspende partilha do governo para conter crise entre PMDB e PT

Temor da presidente é que a disputa partidária contamine votações relevantes no Congresso-
Vera Rosa, Christiane Samarco, João Domingos e Marcelo de Moraes – O Estado de S.Paulo

Na iminência da primeira crise política de seu governo, a presidente Dilma Rousseff agiu rápido para tentar conter a revolta do PMDB por conta da disputa com o PT pelos cargos importantes do segundo escalão do governo federal. Na reunião da coordenação política nesta segunda-feira, 3, no Palácio do Planalto, com os novos ministros, Dilma decidiu suspender a definição de cargos do segundo escalão até a eleição das presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. A presidente também acionou o presidente do Senado, José Sarney (AP), para tentar conter a rebelião no partido aliado.

O temor da presidente é que a disputa partidária contamine votações relevantes no Congresso e, sobretudo, crie um clima de revanche nas definições dos comandos no Congresso. A revolta do PMDB é tão grande que ontem o partido boicotou as cerimônias de transmissão de cargo dos ministros petistas Alexandre Padilha (Saúde), Luiz Sérgio (Relações Institucionais) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

Convocado por Dilma na emergência da disputa, Sarney marcou para hoje uma reunião em sua casa, a partir das 11 horas, com o vice-presidente da República, Michel Temer, os líderes na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e no Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente interino do partido, senador Valdir Raupp (RO), e líderes como o senador eleito Eunício de Oliveira (CE) e o deputado federal Eduardo Cunha (RJ).

Prioridade. A disputa partidária foi discutida ontem na primeira reunião da coordenação política convocada por Dilma. Em duas horas e meia de conversa, a presidente cobrou maior diálogo entre os partidos e priorizaram a questão econômica como principal tema de governo. Ao final da reunião, o ministro Luiz Sérgio minimizou a crise entre o PMDB e o PT. "Com toda sinceridade, não estamos vendo o que alguns órgãos estão noticiando de crise. A relação com o PMDB está muito boa", afirmou o petista.

Gestos. Da parte do governo, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, está prometendo aos peemedebistas que, apesar da perda de cargos importantes, eles serão recompensados com outros de orçamentos semelhantes. O PT tomou do PMDB a Secretaria de Atenção à Saúde (orçamento de R$ 45 bilhões), os Correios (R$ 12 bilhões) e a Fundação Nacional da Saúde (Funasa, orçamento de R$ 5 bilhões).

"Tudo se resolverá no seu tempo e à sua maneira", disse Michel Temer a respeito da indignação do PMDB. "Vai depender de conversações, reuniões e postulações", afirmou ele, que ontem teve um encontro com Palocci. Temer tem procurado demonstrar que estará ao lado de Dilma, mas que não abandonará o seu partido. Tanto é que, em vez de renunciar à presidência do PMDB, ele apenas se licenciou do cargo por quatro meses. A direção do PMDB estabeleceu prazo de 48 horas para que se restabeleça o diálogo com o PT.

Recados. O primeiro recado claro do PMDB ontem foi para Alexandre Padilha, que assumiu a Saúde ignorado por peemedebistas. Padilha foi apontado como mentor do corte de cargos do partido no segundo escalão.

O outro recado foi para Luiz Sérgio, que assumiu o lugar de Padilha e será o responsável direto no governo Dilma pela interlocução com o Congresso, tratando da liberação de emendas orçamentárias e de outros recursos federais.

Na solenidade de posse de Luiz Sérgio, só dois peemedebistas desavisados apareceram. Um deles, o ex-senador Sérgio Machado, que preside a Transpetro. O outro, o deputado Geraldo Rezende (MS), não pertence à cúpula do partido.

O boicote foi mantido durante todo o dia. Vários peemedebistas prestigiaram a posse de Garibaldi Alves Filho na Previdência, e, embora estivessem a menos de 50 metros de distância do prédio onde Alexandre Padilha tomaria posse, não se preocuparam em fazer o ligeiro trajeto.